Columns Doug Reed
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O futsal não é o inimigo

Estamos muito satisfeitos por receber Doug Reed na equipa de colunistas da FutsalFeed. Doug Reed é um antigo atleta internacional por Inglaterra, que tem estado envolvido com o futsal em vários níveis - jogar, treinar, escrever, comentar, mas também organizar vários eventos de futsal no mundo.

A primeira coluna de Doug pega nas recentes ações da Associação Inglesa de Futebol para refletir sobre a visão do futebol & o tratamento do futsal. Ele chega à conclusão de que o futebol enfrenta uma escolha determinará o futuro dos dois desportos.

O artigo segue abaixo – desfrute!

Em Setembro, o website The Guardian revelou que a federação inglesa pretendia cortar quase todo o orçamento para o futsal, levando ao encerramento do programa da seleção nacional.

A federação inglesa calculou que precisavam de fazer um corte de 20% nos custos da organização dado o impacto da COVID-19, mas o orçamento do futsal, por si só já pequeno, teve uma redução de quase 90%.

No dia seguinte, a federação inglesa confirmou o relatório num anúncio de 275 palavras e, desde então, não voltou a referir o assunto publicamente. Parece que esta decisão é definitiva e não deverá ser revertida mesmo que o contexto melhore.

O anúncio precisamente 2 anos Após terem anunciado uma estratégia de 6 anos para o futsal que contemplava o objetivo de se tornar uma das 20 nações de futsal mais importantes. Houve esperança de que o desenvolvimento do futsal seria finalmente encarado com seriedade.

No anúncio sobre os cortes no futsal, afirmaram que as perdas esperadas significam que é necessário “dar prioridade às nossas funções principais, que regulam e servem o futebol inglês, devendo também apoiar as nossas equipas seniores masculinas e femininas para que estas ganhem grandes torneios”.

Ou seja, um órgão diretivo do futsal assumiu uma posição incompatível ao alijar todas as responsabilidades sobre o futsal, evitando apoiar as suas equipas nacionais.

O famoso investidor Warren Buffet disse uma vez: “Só percebemos quem anda a nadar nu quando a maré desce”. O futsal não precisava destes acontecimentos recentes para saber que a federação inglesa, que continua a ser a federação mais rica do mundo, sempre encarou o futsal como descartável e insignificante, mas isto ficou agora mais claro do que nunca.

O futsal enquanto rival

A federação inglesa está longe de ser a única no mundo que trata o futsal desta forma. A revista oficial da UEFA mostra uma perspetiva sobre as razões.

Em 2017, o magazine escreveu que “o futsal tem há muito sido objeto de equívocos, sendo frequentemente considerado uma oposição ao futebol, competindo com o seu irmão mais velho. Isto explica porque foi negligenciado durante tanto tempo na Europa, um continente onde o poder do futebol é absoluto”.

Parece que este ponto de vista continua a subsistir entre as federações menos esclarecidas e quem as gere. Não só é uma posição equívoca, como algo potencialmente prejudicial para os interesses do futebol.

A Popularidade do Futebol

O número de pessoas que joga futebol de 11 tem vindo a diminuir em Inglaterra e acredito que seja esse o caso em muitos outros países, algo provocado pelas mudanças na sociedade atual.

A ligação positiva entre a participação precoce num desporto e o interesse crescente em fazer disso carreira profissional está mais do que provada. A recente tendência de uma geração que cresceu com consolas, optando agora por enveredar pelos e-sports, prova isso mesmo.

O efeito tem um desfasamento temporal entre o desenvolvimento de interesses em criança e o momento em que esta se torna um consumidor adulto com dinheiro para gastar.

Assim, apesar de o futebol ter vindo a enfrentar uma onda aparentemente interminável de aumento de receitas nos últimos 30 anos, o declínio na participação é um aviso contra a lassidão.

A Competição

Isto acontece enquanto a batalha pelo tempo livre das pessoas se tornou mais feroz do que nunca. Escolher como gastá-lo ultrapassa a mera substituição do futebol por futsal ou outro desporto. O futebol está a competir com qualquer forma de entretenimento.

Pode ser substituído não só pelo futsal, mas também por novas opções como Fortnite, Netflix ou TikTok. Uma análise revelou que mais de metade da Geração Z passa mais de seis horas por dia nos seus smartphones. São seis horas do seu dia que antes dos smartphones poderiam ser dedicadas ao futebol, entre outra coisas.

As novas tecnologias de entretenimento surgem constantemente. Todas são cuidadosamente concebidas para captar e manter a atenção. Só atividades altamente envolventes conseguem competir.

É aqui que entra o futsal. A sua natureza entusiasmante e intensa garante que os jogadores são totalmente absorvidos pela atividade. É gratificante do ponto de vista físico, psicológico e social.

Encaixa bastante bem num curto espaço de tempo. É jogado num ambiente confortável independentemente das condições meteorológicas e necessita de menos espaço em comparação com o futebol. É possível organizar um jogo dentro do seu círculo social mais próximo, uma vez que exige apenas 10 jogadores.

Isto permite ao futsal competir com outras opções de entretenimento, mas também com uma sociedade moderna onde as vidas estão a ficar mais ocupadas, a urbanização está a reduzir o espaço disponível e as condições climatéricas extremas se tornam mais frequentes.

O futsal enquanto jogo mais envolvente

Em países como Brasil e Espanha, diz-se que o futsal é jogado por mais pessoas em comparação com o futebol.

Em Inglaterra, a situação é semelhante, com a diferença de que os formatos reduzidos de futebol são mais populares e jogados por mais de 1.5 milhões por semana. Isto porque já eram populares antes da introdução do futsal.

O futsal é um formato reduzido de futebol que evoluiu para um desporto. Tem o potencial de dominar este mercado, pois as suas regras são muito mais apelativas do que outros jogos semelhantes.

Mas, para que o futsal cresça, é necessário investir no seu desenvolvimento. A federação inglesa pode encarar isto como uma oportunidade de aumentar a sua influência nesta área, pois estes formatos reduzidos de futebol são maioritariamente geridos por empresas privadas com pouca supervisão federativa.

As ligas superiores de futsal também têm rendimentos potenciais. Temos visto o crescimento exponencial de formatos envolventes, emocionantes e mais rápidos de outros desportos, como o twenty20 no cricket, a variante sevens no rugby, e o 3x3 no basquetebol. O twenty20 estabeleceu-se rapidamente como o formato mais popular deste desporto em todo o mundo.

Poderemos pensar que isto sublinha o futsal enquanto ameaça para o futebol. Na verdade, pode ser o seu salvador. O críquete, o rugby e o basquetebol estão a promover estes formatos porque se aperceberam de que são essenciais para a sua sobrevivência e crescimento.

A Decisão Que O Futebol Enfrenta

Neste contexto, o futebol tem cada vez mais dificuldades em crescer de forma constante.

Sendo o futsal regulado pela mesma entidade que tem o futebol sob sua alçada, a modalidade poderá perder potencialmente participantes para algo que faz parte do seu ecossistema ou para outra atividade.

Além disso, muitos dos praticantes de futsal continuam a jogar futebol ou vêem-no como uma forma recreativa análoga à sua principal paixão pelo futebol. O futsal tem uma comunidade enorme e dedicada, mas é também uma porta de entrada para o futebol.

Para o futebol, neste ambiente mais competitivo, será mais fácil conseguir que as pessoas se viciem no futsal de grande envolvimento, fazendo depois a sua transição para o futebol, em vez de tentar levá-las diretamente para o futebol.

O dilema que o futebol enfrenta é semelhante ao da empresa de aluguer de vídeos Blockbuster, aquando do surgimento do streaming de alta qualidade há cerca de 15 anos. Optou por não oferecer o seu próprio serviço de streaming online, pois isto diminuiria a lucratividade das suas lojas.

Atualmente, a Blockbuster faliu, enquanto a plataforma de streaming Netflix vale $240 biliões e é uma das maiores empresas do mundo.

Enquanto muitos dos organismos do futsal e futebol negligenciam o desenvolvimento do futsal, surgem cada vez mais apelos internos para que este tenha a sua própria entidade regente, tal como há 30 anos.

Se o futebol não alterar a sua posição em breve, poderá perder o futsal como aliado.

O futebol tem duas opções. Reconhecer o futsal enquanto elemento complementar do futebol e respeitar a sua obrigação de apoiar o desenvolvimento da modalidade ou, como acontece atualmente em Inglaterra, considerá-lo um rival cujo crescimento tem de ser travado.

O caminho escolhido pode definir o futuro do futebol e do futsal.

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Doug Reed

Columnist

Doug Reed

Columnist

Doug Reed is a professional futsal player from England. Futsal is not only his profession but also his passion. He is involved in the sport on many different levels. He has coached, written, commentated on the game as well as being involved in organizing futsal events across the world.

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